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A análise das resistências leva ao desconhecimento do sujeito

  • Foto do escritor: Patrícia Mezzomo
    Patrícia Mezzomo
  • há 12 minutos
  • 2 min de leitura

Texto escrito para o Grupo de Leitura Intermitente da Escola de Psicanálise Estrutural - EPE


Tentar encaixar a psicanálise no inefável causa um desvio escandaloso da nossa técnica. É dessa forma que adentramos o subcapítulo do texto Função e campo da fala e da linguagem, sob o título: As ressonâncias da interpretação e o tempo do sujeito na técnica psicanalítica, nos Escritos de Lacan.


Desvios que todos se sentem autorizados a praticar incessantemente, e que Lacan sem descanso nos aponta, a saber, o sujeito não é ontológico e não há substância.


É dessa maneira que ele segue sempre nos guiando em suas denúncias de tais desvios, colocando agora uma lupa, na análise das resistências, como mola propulsora do desvio freudiano: A análise da resistência leva ao desconhecimento do sujeito pois leva a substancialização daquilo que falta. Interpretar é dar sentido ao vazio, é dar consistência imaginária ao que se apresenta como real no discurso do sujeito.


Freud já sabia. Ele não analisa a resistência, ele deixa que a mesma faça parte do jogo simbólico do sujeito. Do analisando e não do analista. Mas pelo jeito, apenas ele sabia. E sabia tanto, que se usa da resistência, sem lhe conferir sentido, justamente para que ela cumpra sua função, que é a de implicar o sujeito em seu discurso e jamais servir ao tamponamento da angústia do analista. O sujeito deve superar suas resistências e essas jamais devem servir ao analista.


Para aquele que se crê douto, Freud em sua posição de analista, lhe parece vulgar, pois lhe é vulgar tudo o que não se assemelha ao discurso do mestre. E ele vulgariza Freud, desviando-se de seu princípio. Princípio que nos indica que só se atinge autenticamente o sujeito ao descentrá-lo da consciência de si. É somente descentralizando o sujeito de si, que o mesmo é atingido. Atingido, não definido, muito menos interpretado.


O sujeito da psicanálise é fugidio, esvaziado e “impresentificável”. Apresenta-se somente na divisão. Não é indivíduo, é dividido. A estrutura é a divisão, que gera a identidade e desarticula o sujeito. E a psicanálise tem por objetivo descentralizar o sujeito desta identidade. 


E foi justamente esse sujeito que foi esquecido pelos próprios psicanalistas, no desvio para novas tendências que trazem as “boas novas”: sua majestade o Eu. Indivíduo completo, consistente, ileso da angústia estrutural que a linguagem nos arremessa e que pode encarnar a linguagem universal denunciada por Hegel em sua lógica do senhor-escravo, que mais me parecem uma lógica escravo-escravo, ambos agrilhoados ao discurso aprisionante de mestre.


Lacan nos diz que para liberar a fala do sujeito, é preciso introduzi-lo na linguagem de seu desejo. Só o desejo é capaz de liberar o sujeito da lógica senhor-escravo, concedendo-lhe a soberana liberdade de Humpty-Dumpty. Como não sei nada a respeito de liberdade (ou seria de desejo?) encerro me questionando que tipo de liberdade um ovo antropomórfico, com rosto, braços e pernas, em cima do muro, teria alcançado? Seria a liberdade de não ser um ser-humano? Ou somente a liberdade de não ser?


 
 
 

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