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Em defesa da psicanálise - estruturalismo

  • Foto do escritor: Patrícia Mezzomo
    Patrícia Mezzomo
  • 20 de mar.
  • 3 min de leitura


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"No fundo, é só de linguagem que se trata meu ensino."Jacques LacanSeminário 20Mais, ainda

Entender que é da linguagem que se trata a psicanálise, nos nossos tempos, parece um tanto quanto óbvio, pelo menos assim esperamos. Mas se olharmos a trajetória percorrida por Lacan, em defesa de uma psicanálise da linguagem, talvez percebamos o quão importante é dizer o óbvio e mais ainda, lutar por ele.

Ao ler o texto da historiadora Elisabeth Roudinesco, intitulado Lacan, a peste, nos deparamos com um Lacan se equilibrando nas políticas internas para manter-se dentro da sociedade psicanalítica.

Nessa época, no seio da SFP, ele é efetivamente um guru, mas um guru sem comando, obrigado a difundir seu ensino sob a governança de um sistema político que ele não respeita. É obrigado a usar de astúcia, não nomear seus adversários, atacá-los sem dar na vista, subverter os quadros de um grupo ao mesmo tempo em que finge respeitar suas regras.

Aponta seus inimigos sem nomeá-los, enquanto nomeia sempre seus amigos. Ameaça seus inimigos, mas para isso exerce o fingimento, a mentira, o não dito, correndo o risco de ser flagrado corrompendo uma geração psicanalítica, que ele torna rebelde à ordem freudiana do momento com uma profusão de referências a autores vindos de fora do campo da psicanálise.

Ele ainda precisará de muitos anos e de uma verdadeira rejeição por parte da IPA para sair dessa ambiguidade na qual se instalara, mas durante todo esse período, o que ocorre é uma grande batalha no seio dessa mesma sociedade psicanalítica.

Seu desejo de dar uma orientação mais intelectual à reflexão freudiana o impulsiona para fora da SFP e o atira diretamente no estudo dos grandes intelectuais contemporâneos.

Linguística e estruturalismo passam então a ser seu grande arsenal e é aí que ele estabelece as bases de sua psicanálise da linguagem.

O estruturalismo se apresentou como um método rigoroso que podia trazer esperanças a respeito de certos progressos decisivos no rumo da ciência.

Uma verdadeira estratégia inconsciente de superação do academicismo no poder se consubstanciou então num programa estruturalista, que teve uma dupla função - de contestação e contracultura. Podemos ver isso acontecendo no estruturalismo e podemos ver o mesmo com Lacan e a psicanálise da segunda e terceira geração freudiana.

É também o momento em que a linguística desempenha a função de ciência-piloto que orienta os passos da aquisição científica para as ciências sociais em geral. O estruturalismo terá sido, nesse plano, o estandarte dos modernos em sua luta contra os antigos.

O momento estruturalista inaugurou um período particularmente fecundo da investigação nos domínios das ciências humanas. Derivado de estrutura, o termo teve inicialmente um sentido arquitetural, para depois modificar seu sentido, ampliando-se por analogia aos seres vivos e posteriormente assume então o sentido da descrição da maneira como as partes integrantes de um ser concreto se organizam numa totalidade.

A estrutura dá então origem ao neologismo estruturalismo e seu verdadeiro ponto de partida do método em sua acepção moderna, na escala de todas as ciências humanas, provém da evolução linguística. E a partir desse núcleo linguístico, o termo provocará uma verdadeira revolução de todas as ciências humanas em pleno século XX.

Foi nele, que a psicanálise lacaniana pôde encontrar o meio que lhe permitiu se apoiar em um modelo científico e é esse próprio modelo que aponta um novo olhar sobre o outro, sobre a diferença, sobre a forma como esses processos são moldados pela linguagem e pelas estruturas simbólicas da cultura.

O estruturalismo trás um certo número de descobertas que faz parte de um saber incontornável no conhecimento do homem. 

 
 
 

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