Muitas pessoas imaginam que ao entrar num setting de psicanálise, ao se propor experienciar o processo analítico, travarão contato com alguém que detém o saber de suas angústias e anseios. Uma espécie de oráculo de Delfos que partilhará com ele uma explicação erudita de seu sofrer e trará a solução de seu sintoma num manual de vida inspirado no saber geral de uma teoria do inconsciente.
A figura do analista que ocupa o lugar do sujeito suposto saber, é na verdade o representante do próprio inconsciente do analisando. É como se houvesse um acordo tácito em que o analista aceita provisoriamente ocupar o lugar do saber, saber esse que é do próprio analisando e que se apresenta a cada nova sessão, a cada nova linguagem, a cada novo sonho ou ato falho. O analista torna-se então o agente da causa do inconsciente, o analisando percebe seu próprio inconsciente por causa do analista. Por ter um analista, ou seja, um alguém que o ouça, o analisando se propõe a falar. A falar de si e de seu sintoma.
O sintoma é aquilo que fala quando falta a palavra, é o desejo sem voz apresentado em repetição, é aquilo que anseia ser percebido em um fraseado, que se repete em ações incontroláveis, porque “disso nunca falei”.
Mas a verdade do sintoma não é algo que está lá, que já se sabe, que já é, e que aguarda seu momento nos holofotes. Essa verdade será construída sessão a sessão, parida das palavras do próprio discursador, daquele que sente e simboliza em linguagem, daquele que se constitui a medida que associa livremente.
O sintoma deixa de ser sintoma, quando sai do ato repetitivo e torna-se uma palavra, uma frase, um isso que eu não sabia que sabia. E seu valor está justamente nesta constituição retroativa de si, através de si e para si. Não vem de fora, não vem do outro, vem da linguagem, atravessa o imaginário e apresenta-se em simbólico, construindo a verdade singular do sujeito e não a verdade interpretada pelo analista.
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