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A psicanálise dispõe de apenas um meio: a fala do paciente

  • Foto do escritor: Patrícia Mezzomo
    Patrícia Mezzomo
  • 20 de mar.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 21 de mar.

Texto escrito para o Grupo de Leitura Intermitente da Escola de Psicanálise Estrutural - EPE


Porque nos desviamos da descoberta genial de Freud? O que acontece para que os fundamentos de uma técnica sejam banidos da própria técnica em si?

Falar é mesmo assim tão perigoso?

 

Somos testemunhas, ao longo dos anos, da aversão estabelecida em nossos campo, à função da fala. Desde Freud, o que se estabelece são desvios que tornam medíocre nosso ofício. Seja na função do imaginário impulsionado pela análise de crianças, seja nas relações libidinais de objeto que partem de uma extensão do método ao tratamento das psicoses ou, seja ainda, na importância da contratransferência que coloca ênfase no ser do analista, o que vemos aí, apesar da atividade pioneira dessas técnicas, é a deturpação deste pioneirismo em nome de uma única razão: a tentação de abandonar o fundamento da fala.

 

Porém, a psicanálise só dispõe de um único meio e é dele que se trata, a fala do paciente. Sem fala, não há psicanálise.

 

E para além da fala, há que se entender que o ofício do psicanalista é a sua escuta. Seria possível afirmar então que o desvio histórico denunciado por Lacan é o desvio da escuta?

Tal desvio não apenas muda a rota da psicanálise, ele o coloca na contramão da descoberta freudiana, a descoberta do inconsciente.

Ironicamente, a escuta do inconsciente passou a ser a escuta do ego. Tragédia anunciada. A falta de conhecimento do próprio ofício só faz denunciar a obtusidade diante do objeto da psicanálise per se, a saber, o sujeito.

A escuta da fala do paciente, que a princípio parece vazia, faz o analista do ego tentar fazer sutura, tentar responder ao engano, responder a esse ego. E qualquer confirmação dessa fala, aprofunda ainda mais a alienação própria do sujeito, já que responder ao engano, seria confirmar tal engano. Quanto mais a alienação se aprofunda, mais é o gozo do outro que ele faz reconhecer ali. É por isso que não há resposta adequada para esse discurso, pois o sujeito tomará por desprezo qualquer fala que se comprometa com seu equívoco, ou seja, mesmo sem saber, ele sabe.

O analista que sabe do seu lugar, então trabalha, se prepara e aprende, para poder operar sua técnica fundamentada na escuta do inconsciente, na escuta do sujeito. Ele não deve aliar-se jamais a outro, que não seja esse sujeito do inconsciente. Sua arte está justamente em suspender as certezas imaginárias, fazer cair fantasias que dão sentido ao erro de si. E é apenas através do discurso que essa resolução encontra seu caminho.

Se é no discurso que o outro fala, é no discurso que o analista opera. Ainda que esse discurso pareça vazio, ele só o é quando o tomamos por seu valor aparente, pois com ele é possível pontuar, suspender, dar sentido, mudar o sentido, escandir, rumo a sua decomposição, etapa por etapa. O discurso é, e somente ele, o instrumento do ofício psicanalítico.

 
 
 

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