Esse final de ano me dei de presente um presente que já estava ali, a minha espera, há algum tempo.
Recomecei a leitura - pela terceira vez - de Mulheres que Correm com os Lobos!
Incrível como sempre paro no primeiro capítulo e, algo em mim não deseja avançar, deseja ficar por ali, cantando, elaborando, saboreando a delícia de ouvir sobre La Loba.
Clarissa já abre seu livro nos apresentando La Que Sabe, aquela que intui, aquela que ressuscita, que ressurge dos mortos, atravéz da cantação.
E é sobre isso que desejo falar, sobre essa cantação, sobre esse dizer, sobre esse cantar, sobre essa manifestação particular de cada uma de nós, que nos faz ganhar vida.
Winnicott, meu psicanalista do coração, nos explica que o bebê, ao chegar no mundo, precisa recriá-lo, para que esse mundo possa lhe ser real e sentido. Apesar de existir um mundo já pronto, ele nos apresenta esse tão lindo paradoxo da criação do que já existe. Somente criando o que já existe é que se pode habitá-lo. Só aí encontramos o existir e relacionar-se.
Gosto de me apropriar de La Loba seguindo essa trajetória. Ao cantar e contar sobre nós, seja num divã, seja, cantando, dançando, fazendo arte, ou qualquer maneira de expressão autêntica e original, estamos re-criando esse mundo, estamos nos criando para habitar esse mundo. Estamos nos apropriando da nossa história, não como ela foi, mas como a contamos, a partir dos nossos desejos, dos nossos anseios, das nossas angústias e alegrias. Cantar sobre os ossos é contar sobre si, é cantar sobre nosso ser particular, nosso motor de vida, e nosso impulso para engatar nessa existência, a partir da nossa singularidade.
Essa é uma convocação, uma invocação da nossa própria história, um cantar sobre nossos ossos, para que o que há de mais singular, autêntico e único em cada uma, encontre seu caminho de manifestação, de expressão de si.
É cantando que se conta, é contando que se canta. Que o selvagem, o não adaptado e não submetido ao mundo, possa enfim despertar.
コメント